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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Lições que aos poucos a gente aprende

Ser profissional as vezes requer muitos esforços. O terceiro ano chegou, com ele a responsabilidade de produzir uma revista “famosa” entre os alunos do curso de Comunicação Social. Todos sabiam que o tema não era muito fácil. Sentir na pele o trabalho duro de algumas PROFISSÕES por quase uma semana não lhes atraía muito, principalmente aos mais preguiçosos. O dia de dividir tarefas chegou. A responsável por isso parecia encantada (ou melhor, prazerosa) em vê-los metidos nessa “roubada”. Identificadas as funções, restava cada um escolher a sua preferida e enviar via e-mail a resposta. Todos se foram, menos o aluno que, pensativo, observava o quadro de funções, enquanto na cabeça matutava a frase: “Olha a enrascada que fui me meter”.
- Já escolheu a sua profissão?
- Estou pensando ainda
- Gostaria que você fosse lixeiro, ou melhor, coletor de lixo
- O que? – ele sabia que ela o venceria em argumentos
Hesitou por alguns minutos, enquanto ela justificava a proposta. Ainda com medo do que viria pela frente, ficou de responder mais tarde. No dia seguinte, pensou nas possibilidades e na proposta da professora. Jamais recusaria um convite especial da Dona Deus (como a chamava carinhosamente), mesmo não sendo tão bom assim. Aceitou o convite, mal sabia ele que aquele não era tão especial assim.
O dia de começar a exercer a profissão chegou, ele estava morrendo de medo. Entrou no setor de coleta da prefeitura, conversou com os chefes, tomou um café, sentou e ficou a observar o que os demais diziam. Juntou-se, então, à equipe a qual faria parte. Colocou as roupas e equipamentos necessários e foram à luta.
A luva machucava um pouquinho e o pulinho para subir no caminhão era terrível. Quase morreu do coração quando ficou sabendo que o percurso era de cem quilômetros. O dia passou mais do que rápido, as brincadeiras, piadas e histórias que os companheiros contavam o animaram bastante, já nem lembrava mais da repulsa que tinha do lixo. Aprendeu como procurar coisas úteis. Descobriu que gentileza é tudo para se alcançar a felicidade. Companheirismo, então, nem se fale. Desvendou coisas jamais vistas pela população. Viu que crianças realmente são puras e valorizam apenas o carinho a elas atribuído. Entendera o quanto é difícil ser um “profissional do lixo”, mas também o quanto é prazeroso ser responsável por uma cidade melhor (mesmo que pouquinho). Compreendeu que dezesseis anos de profissão não é para qualquer um. Que manter-se alegre depois de cem quilômetros rodados também não. Que um “bom dia” de quem passa ajuda muito e que deixar o seu mundinho para ver o quanto as pessoas podem ser felizes nos seus ainda piores é melhor ainda. 


Foto: Ana Luiza Verzola 

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